Peridiodização no Futsal




O futsal vem atualmente apresentando aumento significativo na sua performance, bem como no seu calendário de jogos. Desta forma, novas formas de estruturação do treinamento se fazem precisas, sendo assim, o objetivo do presente estudo foi apresentar alguns métodos utilizados para a planificação do treinamento e seus novos horizontes quanto á modalidade do futsal.


Palavras chaves: periodização, futsal.


O futsal moderno exige que os profissionais envolvidos, na elaboração e aplicação do treinamento, busquem constantemente soluções adequadas, as quais possam rever e trazer novos métodos e formas de periodização do treinamento. Desta forma, o futsal vem evoluindo significativamente das últimas décadas principalmente no que se refere a sua profissionalização e a exigência de performance individual de cada atleta, baseado nos estudos em torno desse fenômeno (GARCÍA, 2004; DIAS e SANTANA, 2006). Este fator exigiu uma reestruturação no método de periodização, buscando um constante aprimoramento do atleta dentro das qualidades físicas necessárias dentro de um quadro elevado de número de jogos e competições.

A reestruturação proposta pela exigência atual produz diversas dúvidas a respeito da estruturação do treinamento no futsal. Os maiores agravantes para essa dificuldade dizem respeito ao adaptar e/ou enquadrar o processo de treinamento junto ao calendário, onde o período preparatório da maioria das equipes brasileiras é curto e, aliado a esse fator, surge à necessidade de um bom desempenho nas primeiras partidas. Ainda se apresenta conjuntamente o problema de pressão psicológica sofrida pelos profissionais quanto à manutenção de bons resultados, e de oportunizar que nesse breve período de tempo o atleta seja reincorporado as competições com um baixo índice de lesões mantendo-se saudáveis durante o decorrer das competições. Esse fator é determinante uma vez que o período competitivo no futsal longo variando entre 06 a 10 meses de competições, muitas vezes com dois ou mais jogos por semana.

Para se ter uma noção ampla do planejamento de treinamento esportivo é preciso ter em mente que uma das primeiras teorias da periodização do treinamento foi proposta na década de 50 e 60, pelo cientista russo Matveev (1977), hoje conhecida como periodização clássica. O presente sistema de montagem da periodização tem como base dividir o macrociclo ou estrutura anual em três ciclos. O primeiro ciclo, ou período preparatório longo separado em fase básica e fase especifica, as quais têm a função de estabelecer um patamar de desenvolvimento físico ideal para início das competições.

O segundo ciclo, também denominado de período competitivo, onde são planejados ações com objetivo de materializar os êxitos desportivos e a manutenção do desempenho desportivo. O terceiro ciclo, ou período transitório visa criar condições favoráveis para o início de um novo ciclo de desenvolvimento da forma desportiva.

Porém essa teoria atualmente no treinamento do futsal - apesar de ser ainda muito utilizada pela maioria dos profissionais e preparadores físicos - vem perdendo espaço para outras formas de periodização, principalmente por necessitar de um período preparatório muito extenso e grande necessidade de estimulações gerais de treinamento, pensamento quase impossível de ser aplicado junto ao futsal moderno, tendo em mente a alta intensidade que o jogo de futsal parece ser realizado (GARCÍA, 2004).

Uma das grandes questões quanto ao sistema clássico de planificação junto ao futsal, diz respeito se a mesma é capaz de conduzir a uma manutenção de resultados expressivos junto às competições extensivas bem como na manutenção da saúde dos atletas. Apesar de não haver nenhum indício na literatura, parece que o sistema clássico não apresenta uma boa eficiência junto a esse problema. Por outro lado, um método modificado por Zakharov (1992), parece apresentar um bom índice de aprimoramento para este problema.

O autor defende a utilização de três ciclos ou períodos propostos da periodização clássica, sugerindo que a manutenção do alto rendimento é possível através de deslocamento do foco do jogador para a equipe. Assim, o alto nível de aptidão da equipe, em diversas etapas da temporada seria mantido pela combinação da prontidão individual de diferentes membros da equipe, ou seja, onde há uma alternância de atletas durante a fase competitiva, enquanto alguns que estão jogando estão na melhor da forma desportiva, outros atletas entram na fase de nova aquisição da forma desportiva, para conseqüentemente voltar ao quadro competitivo.

Essa idéia parece elegante, uma vez que é unânime no senso científico, que o atleta não consegue manter-se no melhor da sua forma durante o ano todo, porém, segundo a proposta de Zakharov (1992), é possível manter a equipe em seu melhor desempenho durante uma temporada através de remanejo de atletas e/ou controle da atuação da equipe.



Outra proposta de sistema de periodização, levando em conta todos os fatores intervenientes, porém voltada para a modalidade de futebol de campo foi proposta por Gomes (2002). O autor especifica que se deve utilizar um sistema de dupla separação do período competitivo, onde existe uma queda no rendimento esportivo no início do segundo período competitivo, para depois provocar um aumento gradual do rendimento durante a segunda fase competitiva. Segundo Gomes (2002), o presente fenômeno deve ocorre porque o atleta de futebol de campo não necessita desenvolvimento das capacidades de forma máxima e sim de forma sub-máxima.

Esta forma de estruturação tem se demonstrada a eficiente para a realidade competitiva do futebol brasileiro e de esportes com caráter intermitente como o basquete e o futsal (MOREIRA, 2006; LOPES, 2005). Isto se deve, pois a construção do desempenho esportivo parece desenvolvida, não só no período de pré-temporada, mas também no período de competições, onde a aplicação das capacidades de treinamento varia a cada mês. Durante os primeiros meses a ênfase é dada aos aspectos funcionais do organismo para posteriormente se voltar às capacidades neuromusculares, centrada principalmente na velocidade.

Desta forma a pré-temporada é outro ponto a ser observado, a qual no futsal significa o período que antecede as competições, e muitas vezes definida como período de preparação, que na maioria dos casos tem duração de menos de um mês. A pré-temporada se apresenta como um período incerto, pois se torna questionável se no período de aproximadamente um mês ou, em alguns casos, em um tempo ainda menor, o atleta é capaz de alcançar a forma desportiva ideal para o período competitivo. Desta forma, a proposta realizada por Gomes (2002), do aprimoramento de forma gradual do desempenho durante a fase competitiva, parece solucionar esse problema exposto acima.

Desta forma, o futsal moderno em estruturação de treinamento, além de todos os fatores já citados (a dinâmica das cargas, dentro das sessões de treinamentos, semanas ou microciclos e meses ou mesociclos), gera enormes preocupações, pois muitas são as variáveis que interferem no processo de aplicação do volume e da intensidade nesse contexto. Mudanças no calendário de jogos, lesões, incorporação de novos jogadores na equipe, o retorno de atletas que estavam lesionados, viagens, características do adversário, formas de atuar em cada jogo, são algumas dessas variáveis que vem a interferir de modo direto ou indireto na dinâmica dessas cargas.

Em algumas teorias do treinamento mais recentes esses fatores são levados em conta, como no método apresentado por Bompa (2002), o qual defende macrociclos centrados em uma meta especifica (desenvolvimento de uma capacidade biomotora, de uma habilidade, elemento técnico ou tático) e com duração de 02 a 06 semanas ou microciclos. Os principais critérios para a definição da duração do macrociclo são os objetivos específicos, o período do treinamento e o calendário das competições. A não definição exata de microciclos em um mesociclo ou mesoestrutura também é defendida por Forteza (2000), o qual prefere uma estruturação mais dinâmica para direcionar o treinamento. Para isso, o autor nomeou duas variáveis a serem analisadas: a primeira denominada de direções determinantes do rendimento (DDR), as quais constituem conteúdos de preparação necessários e suficientes para o rendimento (e são fatores determinantes que caracterizam uma modalidade esportiva); a segunda que são as direções condicionantes do rendimento (DCR), as quais constituem conteúdos necessários que condicionam a efetividade das direções determinantes do rendimento.

Contudo as DDR sempre serão maiores que as DCR e, assim, a estruturação do treinamento tem como base o calendário competitivo e com isso o número de microciclos de um mesociclo ou mesoestrutura varia conforme as DCR e DDR.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O questionamento do melhor método de planificação ou estruturação do treinamento deve passar primeiramente por uma análise das características dos atletas e seus estados físicos e mentais, do calendário competitivo, dos objetivos a serem alcançados em uma ou mais competições, da disposição tática que a equipe pretende atuar e dos períodos onde o atleta demandará estar no ápice da sua performance, juntamente com os períodos de recuperação necessários para a distribuição das cargas de trabalho, no tempo correto, entre a preparação e competição, para que não desrespeite a nenhum dos princípios do treinamento esportivo. Embora o planejamento ou estruturação anual sirva de norteador na montagem das cargas de trabalho dos microciclos e das sessões diárias, a observação dos atletas nesses períodos, tal como a flexibilização no momento da aplicação das cargas também merece destaque.

REFERÊNICAIS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, Raphael Mendes Ritti; SANTANA, Wilton Carlos de. Tempo de Incidência dos Gols em Equipes de Diferentes Níveis Competitivos Na Copa do Mundo de Futsal. Buenos Aires: Revista Digital, 2006; 11(101).

FORTEZA, Armando de la Rosa. Direcciones del Entrenamiento Deportivo. Buenos Aires: Revista Digital, ano 5, nº 27,novembro de 2000.

GARCÍA, Germán Andrín. Caracterización de los Esfuerzos en el Fútbol Sala baseado en el Estudio Cinemático y Fisiológico de la Competición. Buenos Aires: Revista Digital, 2004; 10(77).

GOMES, Antonio Carlos.Treinamento Desportivo: Estrutura e Periodização.Porto Alegre: Artmed, 2002.

LOPES, Charles Ricardo; Hohl, Rodrigo; Tessuti, Lucas Samuel; Goulart, Luis Fernando; Brenzikofer,René; Macedo, Denise Vaz de. Eficiência de Três Fases de Condicionamento Específico como Programa de Treinamento para Jogadores de Futebol, capítulo 2. In: Lopes, Charles Ricardo. Análise das Capacidades de Resistência, Força e Velocidade na Periodização de Modalidades Intermitentes.[Dissertação (mestrado) – Faculdade de Educação Física]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2005

MATVEEV, Lev. El Processo del Entrenamiento Deportivo.Buenos Aires: Editora Stadium, 1977.

MOREIRA, Alexandre. A Eficácia E A Heterocronia das Respostas de Adaptação de Basquetebolistas Submetidos a Diferentes Modelos de Estruturação da Carga de Treinamento e Competição. [Tese de Doutorado em Educação Física – Faculdade de Educação Física]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2006.

ZAKHAROV, Andrei. Ciência do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1º edição; 1992.

Contato: Tiago Cetolin
Email: tcetolin@terra.com.br

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