Flexibilidade na natação





É na natação, sem dúvida, que se pode encontrar a maior quantidade de trabalhos demonstrando evidências de como a flexibilidade pode influenciar no desempenho de uma modalidade esportiva. Cureton (1941), já na década de 30, documentava a grande associação entre flexibilidade e nadadores de uma forma geral. Em 1932, realizou diversas medidas nas equipes olímpicas do Japão e Estados Unidos, observando nítida vantagem para os primeiros, donos dos melhores resultados na competição realizada naquela ocasião. Comparando, ainda, nadadores olímpicos com universitários, constatou que estes últimos eram, em média, 11,4% menos flexíveis na articulação do tornozelo e 7,7% menos flexíveis nos ombros. Corroborando essas observações, Araújo (1999) comparou atletas de diversas modalidades entre si e com não atletas, evidenciando que os praticantes de natação encontravam-se entre os mais flexíveis.

Em 1976, com os Jogos Olímpicos de Montreal, a atenção dos pesquisadores foi despertada novamente pela natação, devido aos resultados alcançados pelas nadadoras da então República Democrática Alemã. Métodos sofisticados de medida e avaliação de nadadores foram desenvolvidos, objetivando discriminar potencialidades e orientar o praticante segundo suas características fisiológicas e antropométricas (Marino, 1984). A flexibilidade, invariavelmente, toma parte nesses instrumentos (Colman, Desmet, Daly & Persyn, 1989a).

Um bom exemplo pode ser encontrado no sistema de avaliação do Leuven Evaluation Center (Bélgica) para predizer o sucesso do nadador, com base em parâmetros como somatotipo e condição atual, aliada ao treinamento de qualidades como a força, a resistência e a flexibilidade (Persyn, 1984; Persyn, Tilborgh, Daly, Colman, Vijfvinkel & Verhetsel, 1988; Daly, Persyn, Van Tilborgh & Riemaker, 1988). Esta última e os tipos de treinamento que se propõem a melhorá-la têm um peso ponderado de quase 30% no valor de predição. Assim, a flexibilidade aparece como fundamental para o bom rendimento do nadador, desejável por permitir um melhor aproveitamento de sua força, velocidade e coordenação.

O tipo específico de mobilidade vai depender do estilo do nado. Geralmente, encontramos maiores graus nos tornozelos e ombros (Sprague, 1976; Rodeo, 1985). Tornozelos flexíveis significam uma maior possibilidade de aplicação efetiva de força na fase propulsiva da Flexibilidade e esporte pernada em todos os estilos. Nos nados 'crawl', borboleta e costas, a boa flexão plantar permitirá que os pés do nadador fiquem em boa posição para impelir a água para trás e para baixo ('crawl' e borboleta) ou para cima (costas), em uma angulação mais favorável à propulsão. Já no estilo de peito, o movimento do tornozelo é mais importante na flexão dorsal, uma vez permitindo um posicionamento mais precoce e eficiente dos pés para a aplicação da força (Marino, 1984).

No nado de peito isso ainda é mais crítico, pelo fato da pernada ser a fase mais importante da propulsão. Vervaecke & Persyn (1979) sugerem que, entre os melhores nadadores, a capacidade de execução do gesto de forma tecnicamente eficiente parece resultar de uma flexibilidade particularmente desenvolvida nas articulações de tornozelos, aliada ao tamanho da superfície dos pés. Ainda com relação a esse estilo, Colman, Daly, Desmet & Persyn (1989b) propõem ser a flexibilidade a principal determinante da ondulação característica que lhe é característica.

Hay (1978) acrescenta que a flexibilidade dos tornozelos, em muitos aspectos, pode ser mais importante para a propulsão na natação que a própria força muscular. O autor justifica essa proposição pelo fato de que a potência da pernada seria muito mais definida pela técnica de execução e pela boa angulação de aplicação da força, do que pela potência muscular em si. A vantagem de uma boa técnica de execução de movimento de pernas, aliada a uma boa flexibilidade poderia equivaler a mais de 50% da propulsão obtida. No uso de braços, ombros e tronco, a maior mobilidade articular auxiliaria porque os movimentos poderiam ser realizados mais facilmente, sem perturbar a posição do corpo na água. Como exemplo, temos a fase de recuperação da braçada no nado 'crawl' – para recuperar o braço e passá-lo por cima da água, sem tocá-la, um nadador com pouca flexibilidade seria obrigado a realizar uma rotação maior de seu corpo, efetuando um percurso de braço mais longo do que faria um nadador maior flexibilidade de ombros. Isso resultaria em uma maior reação – empuxo lateral – de suas pernas, dificultando sua progressão e diminuindo a eficiência da pernada. Uma boa flexibilidade de ombros também facilita a recuperação da braçada no nado borboleta, além de ser crucial no nado de costas durante a fase de puxada (Marino, 1984).

O valor da flexibilidade para a natação de forma geral pode ser percebido em vários outros estudos. Vervaecke & Persyn (1981), por exemplo, compararam homens e mulheres em relação a variáveis que consideraram importantes para o bom desempenho. A comparação partiu da premissa de que as mulheres seriam relativamente mais eficientes do que os homens na natação, uma vez que as diferenças de rendimento entre os dois sexos são menores do que em outras atividades esportivas. Os autores concluíram que, se os homens revelam-se mais fortes e com maiores superfícies de mãos e pés, teriam flutuabilidade equivalente, enquanto seriam menos flexíveis do que as mulheres, especialmente na articulação do tornozelo.

Pode-se, ainda, citar os estudos de Persyn, Daly & Vervaecke (1983), sobre a influência dos padrões de flexibilidade nas variações de execução do nado 'crawl' em nadadores de elite ou de Chatard, Lavoie & Lacour (1990), examinando a economia de gestos na execução dos diversos estilos, ou de Skipka, Rader & Wilke (1986), propondo que problemas de simetria na execução das técnicas de natação poderiam, na maior parte dos casos, ser creditados a perfis de flexibilidade igualmente assimétricos.

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